ORIENTE MÉDIO
Reação impiedosa
Em resposta à morte de civil atingido por foguete do Hamas, Israel lança uma onda de ataques contra a Faixa de Gaza e mata 33 pessoas em dois dias, incluindo oito crianças.
Palestinos denunciam massacre
Envolto na bandeira do grupo fundamentalista Hamas e coberto por flores, o corpo do pequeno Mohammed Al-Borai foi enterrado ontem na Cidade de Gaza. O bebê de cinco meses morreu na hora, ao ser atingido durante ataque israelense a prédios utilizados pelo Hamas, na quarta-feira. Na manhã de ontem, quatro crianças de idades entre 7 e 12 anos jogavam futebol no campo de refugiados de Jebalyia, quando foram mortas por um míssil de Israel.
Sete ativistas do Hamas, dois militantes de outra facção, um policial e dois civis também acabaram eliminados ontem – o número de vítimas da ofensiva subiu para 33, incluindo oito crianças, desde anteontem. Um dos mortos é Hamza Al-Hayyah, filho de um líder do Hamas. É a maior escalada de violência desde a cúpula de Annapolis (EUA), em novembro, quando o processo de paz foi relançado.
O dia de ontem começou ao som de explosões na Cidade de Gaza. “Às 8h ouvi três explosões, que estremeceram as casas, aterrorizaram as crianças e feriram muitos cidadãos”, contou ao Correio o assistente social Mohammed Salha, de 34 anos. “Que culpa têm as crianças? Se os judeus assim o desejam, que matem o Hamas, não nossas crianças”, desabafou. “Todos culpam o Hamas, mas o povo palestino está destruído”, emendou Salha.
Por volta das 16h (19h em Gaza), a reportagem tentou entrar em contato, por telefone, com o farmacêutico Amjed Dawahidy, de 33 anos, morador do campo de refugiados de Khan Yunis, mas a ligação caiu. Duras horas depois, Dawahidy contou que, um minuto após a ligação do Correio, ele presenciou um ataque matar dois funcionários de uma companhia elétrica. “Eu dirigia o carro quando um homem tentava restabelecer a eletricidade na região. Ouvi o barulho dos helicópteros, vi um clarão e uma grande explosão a 100m de mim.”
A agência de notícias palestina Ramattan confirmou que Mohammed Shamiya e Bahi Al-Farra, empregados da Companhia de Distribuição Elétrica de Gaza (GEDC), foram os alvos do míssil. Segundo Dawahidy, os hospitais da Cidade de Gaza sofrem com a falta de álcool e de oxigênio. “As pessoas estão morrendo lentamente”, desabafou.
A situação preocupa organizações humanitárias. Fred Abrahams, pesquisador da Divisão de Emergências da Human Rights Watch (HRW), admitiu que a política israelense contra Gaza impôs uma punição coletiva contra a população desde junho de 2007, quando o Hamas subiu ao poder no território. “Para pressionar o grupo, eles negam aos civis coisas básicas, como combustível e eletricidade. É uma grosseria contra a lei internacional”, criticou. Abrahams disse à reportagem que Israel não tem direito de castigar civis em represália a ações de uma facção armada. Ele assegurou que a HRW registrará os abusos.
O iraquiano Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da New York University, alerta: “Qualquer escalada de violência é ruim”. Para ele, o acirramento do conflito pode desacelerar o processo de paz, perpetuar o sofrimento dos palestinos e fazer com que a situação fuja ao controle das autoridades. “Enquanto o Hamas disparar foguetes, os israelenses retaliarão”, disse. Ele teme que uma resposta impiedosa de Israel, seguida de ataques de projéteis palestinos, possa levar a uma grande ofensiva terrestre na região.